Retorno – última chance de você salvar sua vida

2023/08/17 | Blog, Filosofia

Quando a nossa felicidade depende de coisas que são difíceis de conseguir, o estresse e a insatisfação são tudo o que conseguimos.

Todos nós conhecemos pessoas que tem muito e que estão sempre reclamando da vida.

Isso deveria fazer você pensar.

Quando alguém tem aquilo que buscamos e mesmo assim não é feliz, deveríamos ligar um sinal de alerta enorme, neon e com luzes piscando na nossa mente.

Como ele tem tudo aquilo que estou buscando há anos e não é feliz?

Esquecemos que onde estamos hoje, também já foi um objetivo que quando atingido nos deixaria feliz.

Nunca estamos satisfeitos.

Sempre temos um objetivo novo que nos trará felicidade.

E de objetivo em objetivo, quanto mais específica forem as nossas condições para a felicidade, mais difícil ela se torna para ser satisfeita.

Quando eu tiver 10 milhões no banco, uma mansão de frente para a praia, uma Ferrari, um Iphone 14, fama e um cordão de ouro de 2523 g eu vou ser feliz.

Será?

Peço a sua permissão para usar as palavras da jornalista Téta Barbosa que nos traz uma visão diferente sobre o assunto.

“Já estou voltando. Só tenho 37 anos e já estou fazendo o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo. Indo morar no apartamento mais alto do prédio mais alto do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe! Mas, com quase quarenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? No que ninguém conseguiu responder, eu imaginei que quando chegasse lá ia ter uma placa com a palavra “fim”. Antes dela, avistei a placa de “retorno” e nela mesmo dei meia volta. Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). É longe que só a gota serena. Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). Por aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo) abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz “a internet voltou!” já é tarde demais porque o livro já está melhor que o Facebook e o Twitter juntos. Aqui se chama “aldeia” e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama, assamos milho na fogueira. Aos domingos, converso com os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar. Aí eu me lembro da placa “retorno” e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: “retorno – última chance de você salvar sua vida!” Você provavelmente ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: “Compre um e leve dois”. Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta.” Téta Barbosa

Quanto menos você quer, mais você tem. 

Não vou fazer aqui um tratado para a pobreza como muitos por aí defendem.

Pelo contrário, acho que quanto mais recursos temos, mais fácil a nossa vida se torna.

E isso vale tanto para recursos financeiros como intelectuais.

O que acho valioso discutirmos é muito mais importante do que isso.

É sobre o padrão que vemos hoje onde nada é suficiente.

O que é suficiente pra você?

A resposta dessa pergunta pode diferenciar duas pessoas que têm as mesmas condições.

Exemplo: Se você tem hoje 10 milhões na sua conta bancária e o seu objetivo for ter 100 milhões, você pode estar se sentindo infeliz.

Se você tiver os mesmos 10 milhões na conta mas, o seu objetivo era ter 1 milhão, você tem mais do que o suficiente.

E isso pode levar a uma vida totalmente diferente de uma pessoa para a outra.

Enquanto uma está “fazendo horas extras e dos finais de semana, eternas segundas-feiras”, a outra pode estar aproveitando a vida e mais feliz do que nunca.

“O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você troca por ela” — Henry David Thoreau

Você já parou pra pensar quanto tempo você precisa trabalhar para ter alguma coisa?

Vamos imaginar que o seu objetivo seja comprar um smartphone novo e que ele custe 5 mil reais.

Se você ganha 2 mil reais por mês, você precisa trabalhar dois meses e meio para comprar o smartphone.

Você acha que vale o esforço? Vai fundo.

Mas quando colocamos o que queremos em perspectiva, muitas vezes desistimos antes mesmo de começar.

Levando em consideração somente o tempo em dinheiro, essa conta é simples de ser feita.

Mas e quando são objetivos que não podemos medir dessa forma.

Vamos supor que você tenha como objetivo ser guitarrista do Gun´s and Roses.

Quanto esforço e quantos anos você acha que serão necessários para conseguir esse objetivo?

Além do fato de que esse objetivo não depende exclusivamente de você.

Muitas pessoas fazem exatamente isso.

Criam objetivos que fazem com que fiquem vários e vários anos buscando algo que na sua visão vai trazer felicidade até descobrirem que não.

Trabalham duro, só que no objetivo errado.

Esse, na minha opinião, é um dos piores cenários que uma pessoa pode estar.

Se hoje, nunca tivemos um índice tão grande de pessoas com depressão e problemas relacionados à saúde mental, algo está errado.

Talvez, fazer o oposto do que todos estão fazendo seja uma alternativa.

Eu li esse texto da jornalista Téta Barbosa faz muitos anos e ele nunca saiu da minha cabeça.

E justamente no momento em que eu li pela primeira vez, era o momento em que eu mais estava “indo” na minha vida.

Tinha acabado de me formar e estava buscando espaço na minha carreira, “construindo” minha vida e conseguindo meus bens materiais.

Mesmo assim, de certa forma, sempre tive aquele sentimento de que estava seguindo um caminho quando deveria estar seguindo outro.

Quase 15 anos depois, já estou no caminho de volta faz algum tempo.

Sai de um dos bairros mais nobres de uma das maiores cidades do Brasil e vivo hoje no interior de uma cidade pequena da região serrana do Rio de Janeiro.

Hoje não penso nem por um segundo em voltar para onde estava e me sinto muito mais realizado e feliz do que já estive um dia.

Esse é um caminho para todos?

Claro que não, existem pessoas que nunca se adaptariam vivendo sem todas as comodidades de uma cidade grande.

E fazer toda essa mudança nem é realmente necessário.

Você pode ser feliz morando em qualquer lugar do mundo, não existem pré-requisitos aqui.

E nem fórmula mágica que irá resolver todos os seus problemas.

A única forma de saber o que vai funcionar pra você, é tendo uma conversa sincera com você mesmo e tentar descobrir as respostas.

A forma mais rápida de alcançar a abundância é diminuindo nossas necessidades.

Será que tudo isso que eu estou buscando realmente vai trazer a felicidade que eu estou querendo?

Será que eu não deveria estar gastando o meu tempo escasso com outras prioridades?

Será que eu já não tenho o suficiente para ser feliz?

Será que eu não estou trocando a minha saúde física e mental por bens materiais?

Será que as pessoas que tem o que eu estou querendo são realmente felizes?

Talvez essas perguntas te ajudem a pensar se o caminho que você está seguindo realmente seja o que faz sentido pra você.

Se a resposta for sim, vá em frente.

Não existe certo ou errado aqui.

O melhor que você pode fazer é chegar às suas próprias conclusões e não aceitar cegamente o que estão tentando te vender.

Inclusive, isso vale para tudo o que estou falando aqui.

Agora se você perceber que o caminho que está seguindo não vai te levar aonde você quer.

Lembre-se que sempre podemos pegar o próximo retorno antes que a placa “fim” chegue.

“Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta.”.

— Felipe Almeida