Como viver até os 100 anos: Os segredos das zonas azuis

2023/11/18 | Blog, Qualidade de vida

Em uma região montanhosa da Itália chamada Sardenha, existia uma tradição estranha.

Os locais contam que antigamente, quando um idoso se tornava um fardo para os filhos, ele era levado até o alto de uma colina e então empurrado ladeira abaixo.

Essa tradição foi seguida por centenas de anos, até que um dia, um dos filhos se recusou a fazer tal crueldade.

Ele então escondeu o seu pai em casa e seguiu com sua vida normalmente.

Depois de alguns anos, esse jovem se tornou muito conhecido e também ficou muito rico.

Um repórter fazendo uma matéria sobre o jovem prodígio, perguntou o que havia feito ele conquistar seu tremendo sucesso.

Foi quando então, o jovem revelou que o seu pai ainda estava vivo e que tudo que ele conquistou, foi devido a grande sabedoria que recebeu dele.

Desde então, a tradição foi extinta e a sabedoria dos idosos é tratada como um tesouro pelos mais novos.

Verdade ou não, a história nos trás uma profunda reflexão.

Muitas vezes, o que consideramos um fardo, é exatamente o que precisamos naquele momento pra nossa evolução.

Hoje em dia, provavelmente seus filhos não vão te jogar de uma colina, mas eu pretendo fazer a minha parte e espero não dar trabalho pra ninguém.

E acredito que você deveria fazer o mesmo.

O estudo

Todos os anos bilhões são gastos com dietas, academias e suplementos, mas está claro que não está funcionando. A maioria de nós está perdendo preciosos anos de vida.

Algumas estatísticas nos ajudam a entender a gravidade da situação:

  • 70% dos 8 bilhões de pessoas no mundo morrerão de uma doença evitável.
  • 73% das pessoas nos Estados Unidos estão acima do peso ou obesas.
  • 55% das pessoas se consideram estressadas.
  • Pela primeira vez em um século, a expectativa de vida está caindo.

Devido a esses números alarmantes, o pesquisador Dan Buettner resolveu investigar as regiões com a maior quantidade de pessoas centenárias do mundo, as chamadas zonas azuis.

As conclusões desse estudo e o que as zonas azuis podem nos ensinar é o que vamos analisar hoje.

Mas porque zonas azuis?

O nome zona azul surgiu por causa de um pesquisador italiano que toda vez que achava um lugar com uma concentração muito grande de centenários, marcava um mapa com uma bola azul.

As zonas estudadas foram as seguintes:

  • Okinawa (Japão)
  • Sardenha (Itália)
  • Loma Linda (Estados Unidos)
  • Ikaria (Grécia)
  • Nicoya (Costa Rica)
  • Singapura (Ásia)

Essas regiões chegaram a ter em média 10 vezes mais centenários do que no resto do mundo.

Hoje, infelizmente, todas as zonas azuis diminuíram de tamanho e estudos apontam que elas podem desaparecer em apenas uma geração.

Muito disso se deve às comodidades do mundo moderno, que fazem com que a cultura dessas regiões, cultivadas por centenas de anos, estarem sumindo.

Mais do que nunca, temos que analisar o que levou essas regiões a terem a maior concentração de pessoas centenárias do mundo e tentar replicar os seus ensinamentos para que possamos ter uma vida mais longa e feliz.

1) Se mover naturalmente

Todos nós sabemos que a atividade física é um dos melhores remédios que existem quando se trata de prevenção de doenças.

O estudo comprova isso, porém, de uma maneira diferente.

A maioria dos entrevistados não frequentam uma academia, praticam esportes ou saem pra caminhar pela manhã, mas todos eles têm a atividade física na sua rotina de alguma forma:

  • Em Okinawa é muito comum as pessoas cultivarem hortas em casa e dedicarem uma parte do seu dia ao cultivo e cuidado delas.
  • Em Sardenha, por ser uma região montanhosa e as casas muitas vezes terem mais de um andar, as pessoas sobem escadas e colinas no seu dia a dia.
  • Ikaria é conhecida pelas suas danças.
  • Nicoya por não ser um grande centro urbano, moer o café, cortar madeira ou cuidar dos animais são processos ainda bem manuais.

Todas essas atividades acabam sendo uma forma de exercício que muitas vezes gastam mais calorias que uma hora de academia.

Outro fator comum entre os centenários, é sempre que possível a escolha por caminhar.

Ir ao mercado, na padaria ou na casa de uma amigo, quase sempre é feito andando.

E todos nós sabemos que caminhar é uma das melhores e mais fáceis maneiras de praticar atividade física.

Uma caminhada de 30 minutos pode trazer os seguintes benefícios:

  • Emagrecimento
  • Controle da vontade de comer
  • Protege contra derrames, infartos e diabetes
  • Diminui a sonolência
  • Deixa o cérebro mais saudável
  • Aumenta o bem estar
  • Melhora a circulação

Resumindo, qualquer tipo de atividade física é bem vinda, seja intencional como ir a uma academia e sair pela manhã para caminhar ou nem tanto como cuidar da sua horta e moer o café que vai tomar pela manhã.

2) Comer sabiamente

Ikaria é uma região privilegiada por sua beleza natural, mas não podemos dizer o mesmo quanto a sua geografia.

Antigamente, quase tudo viajava de um lugar para o outro de barco, e não ter um porto natural foi um obstáculo enorme para Ikaria.

A população teve que se virar e viver do que conseguia plantar no solo ou através de ervas e temperos que podiam ser achados na natureza.

Claro que isso não é mais um problema, mas muito dessa cultura que foi formada nos tempos difíceis, permanece nos dias atuais.

Muitos pratos típicos são a base de vegetais, que possuem uma densidade calórica – quantidade de calorias em um determinado alimento – muito menor do que um hambúrguer, ou seja, demoram muito mais pra serem digeridos, o que prolonga a sensação de saciedade e evita que as pessoas comam toda hora.

Seja por causa da geografia em Ikaria, das hortas em Okinawa ou do estilo vegetariano de Loma Linda, comer muitas verduras e legumes é comum em todas as áreas pesquisadas.

Enquanto nos Estados Unidos, uma pessoa devora um hambúrguer de 750 calorias em 2 minutos, em Okinawa, o almoço pode ser um refogado de verduras e legumes com tofu.

Uma refeição muito maior em quantidade e tem metade das calorias de um hambúrguer.

Outra parte da equação além da qualidade dos alimentos é a quantidade de alimentos.

Enquanto nos Estados Unidos a ingestão calórica média é de 3.200 calorias, em Okinawa é de 2.000.

Isso se deve a qualidade dos alimentos ser muito melhor e fazer com que as pessoas sintam menos fome e consequentemente comam menos.

Em Okinawa, existe até uma tradição antes das refeições que é pronunciar as palavras Hara, Hachi, BU.

Elas significam 80% cheio, ou seja, é um lembrete para você parar de comer antes de ficar estufado.

Talvez por isso, o Japão seja um dos países com a menor taxa de obesidade do mundo.

3) Conexão com outras pessoas

Se relacionar com outras pessoas é a base de uma rotina saudável.

Seja um almoço em família, um café com amigos ou os Moais.

O conceito de Moai foi criado no Japão e nada mais é do que um grupo de pessoas que se juntam para levantar fundos que tem como objetivo ajudar qualquer membro do grupo que venha a precisar.

Por exemplo, um dos membros do grupo entrevistado teve um acidente doméstico e quebrou a perna.

Todo o tratamento médico e as despesas estão sendo pagas pelos fundos levantados pelo Moai.

Em Ikaria, as famílias costumam almoçar juntas sempre que possível.

Essa é uma ótima forma de contato social, além de ajudar a diminuir o ritmo em que comemos, o que também favorece não comermos em excesso.

Uma outra relação muito valorizada é o casamento.

A maioria dos centenários têm relações muito boas com seu parceiro.

Uma curiosidade levantada no estudo, diz que quando existe um relacionamento muito longo entre duas pessoas e uma falece, as chances da outra também falecer nos próximos meses aumenta 60%.

Isso ajuda a entender a importância de ter alguém ao seu lado.

Assim como o casamento, a relação com os filhos também é outro fator importante.

Quando existe uma relação saudável, as chances de um idoso ir para uma casa de repouso é muito menor.

Nos EUA, 53% das pessoas acima de 50 anos tem chances de ir parar em uma, ao contrário da Sardenha em que as casas de repouso simplesmente não existem.

Existe uma estimativa de que uma pessoa, assim que entra em uma casa de repouso, perde em média 2 a 6 anos de vida.

A cultura das pessoas idosas serem cuidadas em casa e a sua sabedoria ser valorizada, é um dos motivos dos centenários terem a sua vida prolongada e mais feliz.

4) Atitudes como fé, propósito e relaxar

Todos os centenários parecem ter os mesmos problemas que nós, porém, eles possuem alguns rituais que ajudam a diminuir o estresse.

Esses rituais envolvem coisas com a fé, sonecas ou até happy hours.

Em Ikaria, os happy hours são muito comuns. As pessoas se reúnem nos finais de tarde para descontrair com os amigos, aliviar o estresse da semana e dançar, que também é um tipo de atividade física.

No Japão temos muito forte o conceito de Ikigai e na Costa Rica o Plan de vida.

Ikigai pode ser traduzido como a razão pela qual levantamos todos os dias ou um motivo para viver, muito parecido com o conceito do Plan de vida.

Como muitas vezes esse propósito envolve ajudar outras pessoas, ele nos trás um senso de importância e nos sentimos necessários para as outras pessoas.

Parece que quando temos um propósito para estarmos vivos, isso se torna um combustível a mais para nós.

Outro ponto levantado pelo estudo, é o enfrentamento ativo dos problemas.

Hoje em dia o celular nos trás todos os problemas do mundo e o pior é que sobre esses problemas não temos muito controle.

Então manter a saúde mental em dia é vital.

Todas as culturas têm a sua maneira de resolver os problemas e aliviar o estresse, mas uma das mais curiosas vem dos adventistas de Loma Linda.

Eles têm o costume de se recolher por 24 horas, da sexta à noite até o sábado à noite.

Essa pausa na rotina ajuda a aliviar o estresse e se torna ao mesmo tempo uma forma de reflexão para eles, ajudando na saúde mental.

De uma forma ou de outra, parece muito importante cuidarmos da nossa saúde mental se quisermos chegar até os 100 anos.

Muitas vezes nós esperamos ter saúde, mas incentivamos a doença

Os americanos e as populações ocidentais em geral estão sempre na busca de uma solução rápida e fácil para resolver todos os seus problemas, mas de fato as coisas que são realmente importantes levam tempo para poderem ser sentidas e terem resultado.

Esse é um dos motivos de muitas vezes termos atitudes que vão contra o que sabemos que é saudável.

Eu sei que não é fácil, mas nos conscientizarmos que se quisermos viver até os 100 anos precisamos cuidar da nossa saúde, pra mim parece vital hoje em dia.

Em uma sociedade onde hábitos ruins são o novo normal e os saudáveis são a exceção, qualquer um que tente reverter esse quadro merece ser ouvido.

Fica claro nesse estudo que as mesmas coisas que nos ajudam a ter uma vida longa e saudável são as que fazem a vida valer a pena.

Mas cabe a você tomar a decisão de escolher a saúde ao invés da doença.

E isso começa nas pequenas atitudes do nosso dia a dia.

Não espere ser tarde demais para mudar.

Todos nós temos duas vidas, e a segunda só começa quando descobrimos que só temos uma.

— Criador Felipe